domingo, 20 de fevereiro de 2011

Para pensar


Nathale tem 24 anos, negra e é mestranda em química orgânica na Universidade Federal do Maranhão( tem gente que acha que aqui nem tem faculdade). Num fim de tarde de um domingo nublado nos reunimos só pra papear na orla da praia do Caolho.
Ela contava do dia que foi dar aula em um prédio chique na Avenida dos Holandeses, que diante de tanta pobreza parece outra cidade, não parece São Luís. Essa é uma das áreas com o metro quadrado mais caro da cidade e do nordeste.
Ela perguntava se alguém já tinha pego o (ônibus) Calhau Litorânea as sete da manhã e informava que só tinha preto. Todos iam trabalhar em casa de branco num requiscío claro da colonização moderna.
Ao chegar no edifício o porteiro, negro, lhe fala com grosseira e não acredita que ela seja 'a professora'. Tão alienado está que crê que todos negro como ele deva ficar sempre fadado ao trabalho simples, operacional : doméstica, pedreiro, segurança . Não é à toa que na época o Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa ao andar de terno num avião tenha sido atendido em inglês pelas funcionárias...
Depois da confirmação Nathale subiu. Nesse lugar como em tantos outros tem elevador de serviço e social como se quem trabalhasse para eles não participasse da sociedade.
Nath é olhada com desconfiança e reserva pelas finas senhoras que ainda cochicham como se ela não tivesse ali!
'' Será que o elevador de serviço está com defeito?''
Como se uma cor transmitisse doença. O que me espanta é a rapidez com que se aprende e dissemina a burrice. Que também é sinônimo de preconceito.
Às dez horas termina sua aula e ao passar pela piscina que separava os dois condomínios um velhinho na piscina exclama: '' ô Mariazinha terminou o trabalho rapidinho hoje!''

A beleza de Nathale está na sua reação. Seguia adiante impávida com um livro volumoso entre os braços. Estava num estado superior e nada a abalava. Não se queixou, não por conformismo, mas porque sabia que não adianta conversar com surdo ou mostrar luz ao cego.
Petrônio em Satíricon escreveu que ''não se pode falar sensatamente com cabeças descerebradas''.

#fikadica



Essa é mais uma estória desta província chamada Brasil.


ps: Clênia, Nathale and me





4 comentários:

  1. Que desânimo dá coisas assim.

    http://www.vemcaluisa.blogspot.com/

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  2. bando de...

    vou xingar aqui não rsrss.


    Didi,
    não suma tanto :P

    tira o pc da poeira e leva ao conserto (olha a ousadia) rsrs.

    beijo de poesia e chocolate também! :)

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  3. Retratos de uma província chamada São Luís. Terra que reflete o que muitos dizem que já se foi, só pra não combater.

    mas tenho fé que um dia muda.


    bjo, nêga.

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