sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A mulher do dedal



Hoje andando na Rua Grande de cabo-a-rabo atráz de um zíper verde de 50 cm vi um pote cheio de dedáis. Vi na ultima loja, eu já estava até desistindo da busca.
Lembrei da mulher do dedal de quando eu era criança: Tia Cota. Maria de Nazaré para os menos íntimos...É irmã da minha mãe, veio morar conosco para se tratar de um câncer mas a doença a levou sem que eu ao menos pudesse dizer adeus. Dizer adeus dói e não dizer dói mais ainda.
Tia Cota foi uma das pessoas mais calmas que conheci, nunca a vi ralhar, sequer franzir a testa em sinal de uma desaprovação qualquer. Além da paciência era exímia costureira e pra finalizar. A melhor tia do mundo.
O dedal é símbolo de um dos melhores presentes que recebi: uma boneca de pano feita especialmente pra mim. Que me dessem trilhões de barbies, brinquedo que dançasse, chorasse, enfim. Eu só queria aquela, com seu rostinho pintado à mão e roupinha de estampa simples.
Ela não me dava o objeto de desejo fácil, a boneca ela escondia e ficava naquela brincadeira de quente ou frio.Assim era muito, muito melhor.
A mulher do dedal me deixou, ficou a lembrança de sua face indígena , de uma boneca de vestido de listras verdes e brancas encima de um guarda-roupa e uma menina no batente da janela chorando por um corpo que não viu.



Um comentário:

  1. Os pequenos objetos trazem as grandes lembranças...
    Adorei o texto. Muito bom, pequenina!

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